terça-feira, 20 de maio de 2014

A porta e o escuro da alma


Porta de Venezianas tortas,
Que apara o sol no miudinho,
Quebra-te, escafede-te,
Deixa a luz entrar por inteiro.


Maldosa és tu
Que a mim direcionas
Poucos, uns míseros instantes
De luminosidade.

Fechada, tapada, mesquinha,
Tu que encrostas a escuridão,
Dá-me um grão a mais,
Um grau a mais de paz.

Tudo me chega enfadonho,
Não enxergo os outros,
Não vejo a mim,
E por entre tuas brechas
Pouquíssimo fulgor
Penetra meu espaço.

Deixa de mesquinharia, ó porta!
Abre-me tuas gretas
Nesta linda manhã
Que virá clarear!

Faz-me esse favor,
Peço-te com fervor...
Permite-me olhar as cores,
Sentir o cromatismo
Que há tempos não me rodeia.

Em troca, dar-te-ei a inexistência,
A tua inexistência,
Pois existes sem
Um sentido prático.
Tapar minha vista,
Eis a tua utilidade?
Não, minha cara,
Eis a tua inutilidade.

Thayza Alencar

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