Tudo se tornou mais difícil na vida dos brasileiros com o golpe de 64. Para estudantes e professores a situação era bem pior. Não interessava aos ditadores alguém que pensasse, que questionasse. As instituições mais atingidas foram as universidades, seus melhores professores e os diretórios acadêmicos.
Estudando, à época, no Recife, testemunhamos várias vezes, estudantes e professores serem agredidos, por ocasião de suas manifestações de protesto. Os militares ficavam irritados porque os estudantes divulgavam que fariam uma concentração em determinada praça, a partir de tal hora. Os militares cercavam a praça. No entanto os estudantes estavam reunidos em local totalmente diferente daquele que havia sido divulgado. Quando as tropas percebiam que os policiais haviam sido ludibriados, corriam ao encontro dos estudantes, onde todos realmente estavam. E aí o ódio era maior e a violência era redobrada.
A cavalaria subia e descia calçadas para espantar estudantes, atingindo-os com chicotadas. Mas os estudantes também se precaviam. Muitos, munidos de bilas, ou bolas de gude como alguns chamam, jogavam-nas durante a passagem dos cavalos e muitos deles escorregavam se esparramavam no chão.
As igrejas, geralmente, viravam abrigos para os estudantes. Em outros momentos, serviam para a realização das reuniões que eram impedidas de acontecer em praças públicas. Não havia, por parte dos manifestantes, nenhuma demonstração de violência. A violência ocorria apenas da parte dos militares por não admitirem contestações. Não havia quebra-quebra. E todos compareciam sem máscaras.
A revista O Cruzeiro chegou a publicar fotos de estudantes sendo agredidos à saída da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no centro do Recife, onde nos abrigávamos de uma perseguição policial.
As universidades perderam seus professores que demonstravam maior clarividência. Paulo Freire que estava no auge, com seu Método de Alfabetização de Adultos em quarenta horas, foi perseguido e banido do país. O seu crime fora criar um método revolucionário que foi testado com sucesso em Angicos, no Rio Grande do Norte. João Goulart, entusiasmado com o resultado do método, pediu a Paulo Freire o Plano Nacional de Alfabetização. A ditadura não permitiu que fosse implantado. Pelo contrário, todos os que defendessem aquele método eram tidos como comunistas ou subversivos que era a palavra da moda.
Vivia-se sob tensão. O Seminário de Olinda, o Mosteiro de São Bento eram suspeitos de esconder os perseguidos. Na realidade, no mirante do Seminário de Olinda alguém se escondia das perseguições da ditadura. O rádio e os jornais passaram a ser censurados. Só publicavam aquilo que fosse do agrado dos ditadores. Quem se der ao trabalho de analisar jornais ou revistas da época vai-se deparar com matérias entremeadas de receitas de bolo que nada tinha a ver com o texto. Mas era uma forma criativa de denunciar que aquela parte tinha sido censurada.
Por outro lado, a repressão estimulou a criatividade de compositores, jornalistas, atores, chargistas que encontravam jeito de transmitir as suas mensagens de insatisfação com o regime repressivo. Surgiram também os “dedo-duros” que, para agradar os ditadores, entregavam colegas. Como prêmio, recebiam cargos elevados ou proteção. Documentos comprobatórios estão vindo à tona.
Somente os entreguistas ou que não viveram aquela época, tem saudades da ditadura e querem a sua volta.
Leunam Gomes
Croatá - CE
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